sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Dúvida, medo e produção

Eu jurava que meus planos iriam dar certo. Eu tinha tudo pronto em minha mente.
Não havia a menor dúvida do que eu queria, e exatamente por isso que eles deram em nada. Sinistro...
Mas sabe... Eu não me arrependo. O problema é voltar à estaca zero e recomeçar tudo de novo. Será que consigo?
No caso, essa dúvida infeliz é um bom sinal, ela não é vilã. Antes eu não a tinha pra me aporrinhar, agora tenho. Será? Será que consigo? Ai é uma questão de força de vontade e paciência. Porque agora com uma manada de elefantes pesando atrás das orelhas, fica tudo perigoso na nossa cabeça. Um medão danado, chão feito de casca de ovo de galinha de granja! Sabe aquele chocado na estufa? Gelo fino trincado sobre um rio congelado. Shiiiiiii! Silêncio... Se não vai acordar a má sorte que parece ter dado uma trégua.
E tem mais, ao primeiro estalo, corre pra não afundar, mesmo que ás vezes seja só um pequeno estralar dos dedos, ou um movimento com o pé que fez estralar uma junta... Mesmo assim, não tenho culhão para enfrentar. Não senhor! Chega de afundar sem saber nadar.
Mas e agora? Como fica? Medo, insegurança, cagaço, tristeza, solidão... Falando em solidão, é o que eu costumo dizer á mim mesmo e às vezes, para alguns amigos mais corajosos que eu:

A solidão não tem surpresas. É sempre aquilo e pronto você já sabe como é. Sem sustos!

A solidão encarada como algo seguro, definido, estável. O lance é fazer a opção.
Agora, uma pergunta. Porque não conseguimos ficar assim, numa boa, cada um na sua? Dá uma desafogada de vez em quando e pronto, toca o enterro.
Sinceramente se soubesse a resposta talvez não estivesse aqui questionando. E ai, ninguém iria ler esse texto, e ai, alguém que pensa assim jamais iria se identificar e descobrir que não esta só nessa situação. Putz! Acabei com a segurança da solidão... Ai que ta! Os sentimentos forçam a gente a produzir coisas. Quem nunca ouviu as histórias de artistas famosos, músicos, pintores, que tiveram grandes decepções, grandes traumas na vida, muita tristeza, solidão, medo e angustia? E isso desencadeou uma reação que simplesmente salvou-lhes a existência! Salvaram a lavoura sem querer, sem ter planejado nada disso. E isso, os fez emergir do mergulho surdo e profundo provocado pelo choque traumático. Saca só o que esse cara escreveu e tenta imaginar o que ele tava sentindo:

Sinto a vida calefar pelos poros. Não posso conter o apelo de minha anatomia. Sou o veículo frágil das hipóteses desconexas, das crenças céticas, dos hermetismos confessos. Sou corpo que não cabe em recipientes. Sou o títere das articulações engessadas. Sou eu mesmo o meu próprio simulacro.

O sentimento de medo, dúvida, desconfiança, pode ser usado para isso.
Desde uma bronca até mesmo um trauma castrante, deve produzir algo. Se não é só dor e mais nada. E acabamos por nos contorcer com isso tudo atado a nós e não geramos nada. A gente repudia tanto a dor como algo que não nos pertence... Nós não aceitamos que ela também é algo mais nobre que simplesmente sofreguidão e lamúria, ela é lapidação.
O paradoxo aqui fica subentendido como medo e coragem, ação e reflexão. A dúvida nos faz refletir, o medo, nos faz pensar, e quando pensamos... Bom, quando pensamos damos um tempo. Apertamos o pause no controle remoto e avaliamos a situação por vários ângulos. E então... Decidimos... Ou não! A parada que damos nos faz ir mais adiante, nos trás coragem, a coragem da certeza, de que é por este caminho que se deve continuar.
Eu decidi e até agora não me convenceram do contrário... Ainda... Digo ainda porque algumas hipóteses não podem ser totalmente dispensadas.
Imaginamos que tudo isso seja um pequeno estágio, uma fase do jogo que temos que passar para atingir a grande meta, o alvo, o objetivo maior, aquele que esta preparado para nós. Parecem apenas momentos de treinamentos e aprendizados que vão culminar no “viver de verdade”, lá na frente, algo incrível.


Porque esse medo, esse maldito “pit-stop” , como já dizia meu irmão mais novo, essa sala de espera, parece nos atrasar a viagem, nos trazendo a sensação de perda de tempo, mas não se trata disso. Essa parada para beber água, esse pix existencial, é parte do processo, está contido no conjunto, assim como pregam os filmes de ficção ciêntífica, as viagens no tempo, já estão todas na história dos acontecimentos, também sendo contabilizado como tempo normal e válido.

Isso me faz lembrar da frase naquela música do John Lennon: “A vida é tudo aquilo que acontece enquanto fazemos outros planos”
Será que então é essa minha vida e eu ainda não estou aceitando que ela seja assim?

Provavelmente...