domingo, 4 de maio de 2008

Para onde fui?



Para onde foi o amor? Para onde foram os sentimentos puros e melífluos que movem o coração e a coragem? Onde foi parar o fogo da paixão e a intensidade do beijo, do simples afagar dos cabelos, e o olhar penetrante que excita a libido. Um olhar que diz tudo, sem usar palavras.
Tantos cuidados tomamos, que deixamos tudo isso de lado e voltamos á nossa “carapaça”. Fechamos as cortinas, para que o sol não entre e rompa a escuridão e o frio da solidão em nossos corações. Simplesmente não queremos essa luz á nos aquecer. Não. Damos preferência ao frio da solidão, mesmo concientemente não querendo e desdenhamos do amor. O calor de uma abraço, um beijo molhado e intenso e uma palavra ao pé do ouvido, dizendo segredos de liquidificador, e loucuras que queremos ouvir á muito tempo, nada são. Precisamos pensar, pensar e pensar. E ai, continuamos sós e pensativos.
Companhia, troca de idéias, maravilhosas piadas bobas soltas sem pretenção de fazer rir de verdade, apenas para quebrar o gelo, e tornar tudo mais quente, mais familiar, mais afável. Conversas deliciosas pelo telefone, e o desejo de estar próximo, de quebrar as leis da física e transpor as barreiras das coisas possíveis e se enfiar pelo cabo do telefone, linha á dentro, só para dar um beijo na pessoa que esta do outro lado. Há se isso fosse possível.
O gosto de se descobrir no outro, de conhecer, de namorar, de quebrar as regras e os horários rigidos da vida urbana.
Mas as coisas não são assim. Não. Nem todo esse mover dos sentidos e da ebulição interna dos acidos e enzimas são suficientes. Tem sempre um porém, que lança tudo isso fora, como coisa nenhuma, inútel vibração dos musculos cardiacos. Não podemos deixar que isso nos leve. Isso não é a razão, não é verdadeiro, é só empolgação, nada mais. Será?

Quando lemos esses sinais em nós, e deixamos passar, julgando sem importância, corremos o risco de estar nos perdendo numa razão sem justificativa, e ficamos sem descobrir para onde fomos. Nos perdemos no emaranhado de pensamentos, ponderações e reflexões.
Como dizia Carlos Drummond de Andrade:

“ ...Quem não namora, tirou férias de si mesmo...”.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

COISAS QUE FICAM


Quando as coisas deixam de ser simples, quando elas complicam mais do que podemos imaginar, vamos do conhecido e palpável, ao desconhecido e intangível em pouco tempo.



Resolvemos não nos conformar com o que estava diante de nós e buscamos ir além. Acoplado a isso, a essas descobertas e conhecimentos que se descortinam , vem a cobrança, e uma responsabilidade enorme. Você quer mais conhecimento? Quer ir além? Então prepare-se para ter acesso á coisas e informações que irão lhe tirar aquilo que você chama de chão.

É uma delícia conhecer, descobrir, entender, expandir a mente, aumentar as possibilidades, amadurecer, mas esse é um caminho sem volta. Uma vez nele, jamais seremos os mesmos novamente.
Existe uma linha limite da qual se ultrapassa para nunca mais voltar, e seus conceitos, princípios, valores e possibilidades, mudam, e se transformam em coisas muito mais complexas. Não que isso seja ruim, o conhecimento da verdade liberta, trás novos horizontes, mas dizem que “felizes são os ignorantes”.
Não há dúvidas que a vida deles é mais simples, comedida, limitada, portanto, menos polêmica, tranquila e mais próxima da satisfação, exatamente por serem assim.
Não me arrependo de nada, em momento algum. Mas como sou saudosista, fico lembrando de uma época em que tudo era simples, inocente, puro, com total falta de malícia.
Outro dia, ouvindo uma música, me deu um estalo. Parecia uma viagem no tempo. Era como que se fosse acionado um dispositivo em minha mente e fiquei totalmente estático, tentando "prender" aquele momento, para que ele não passasse tão rapido. A impressão que tive era que se eu me movesse, aquela sensação iria embora.
Quando eu era pequeno, e ia á igreja, haviam músicas parecidas com essa que estava ouvindo, entoadas por todos, acompanhados por um precário piano mal tocado, um violão velho, ou um órgão com o vibrato no máximo. A preocupação não era a entonação, o ritmo, muito menos se as vozes soavam nítidas ou belas. O importante era cantar com toda força dos pulmões. Essas canções falavam de esperança, dedicação, fé, amor, paz, e um futuro bilhante em um lugar onde as ruas são de ouro, os homens cegos podem ver e o mal não pode alcançar. Onde todo sofrimento tem seu fim, as dores e as tristezas terminam definitivamente. Diziam de uma terra além do rio, onde pequenos sinos de ouro tocam, e a paz é imperturbável. Toda natureza e os homens vivendo em equilíbrio e união.
Era uma época em que pelo menos eu, acreditava em tudo. E isso acabava por trazer esperança de dias melhores, mesmo em meio a uma vida difícil e turbulenta que levavamos.
Aquelas músicas que eu estava ouvindo me levaram para esse tempo numa viagem da conciência enebriada por um breve momento.

Lembrei que era como se os problemas, os medos, as dificuldades, a falta de dinheiro, tudo isso, simplismente desaparecesse. Transformado-se em pequenas coisas sem importância, e toda dor e preocupação, sumiam. Me senti cantando aquelas canções novamente, por entre os bancos e cadeiras velhas de madeira. Todos pareciam sedados, anestesiados, flutuando em catarse coletiva, e de repente...A vida parecia ter melhorado, no fim da última estrofe, tudo estava resolvido.

Lembro de pequenas igrejas, com o reboco caindo e a pintura por fazer, onde pessoas cheias de fé, em bairros pobres, no meio do nada, na escuridão da noite, cantavam juntas, sobre forças que desafiavam o universo.
Fiquei paralisado, curtindo esse momento, essa bruma, pensando nessas coisas, que pertencem á um passado que hoje parece tão distante, uma época singela, quando se cria na vida de forma mais simples, onde tudo era possível.








"...findarão as agruras da vida,
Quando a névoa do mal passar,
A de a noite fugir, ante o vivo lizir,
Quando o dia eternal raiar.”