
De repente ele abre os olhos… Uma sensação de vazio no estomago, a boca seca, os olhos inchados, a mente tentando se situar.
Olha pelo vidro embaçado. Ta escuro lá fora. Gotas escorridas de água provam duas coisas: ou choveu, e ele não viu, ou ele dormiu tanto no ônibus que foi parar na garagem, lavaram o veículo, sem que ninguém percebesse o indivíduo ali. Isso acontece às vezes, quando nos “camuflamos” na multidão. Não somos mais o João, o Carlos, o Marcos, somos uma massa, e no momento em que esse amontoado se extingue, não sobra percepção para indivíduos isolados.
Apesar de já ter passado por isso antes, ainda não acostumara com esse sentimento de vazio, flutuação, de falta de sei lá o que. Por isso, correu os olhos pelo local e percebeu que o abafado que sentia era porque o coletivo estava cheio. Muita gente em pé, como peças inteiras de carne penduradas no gancho de um caminhão frigorífico balançando displicentemente, impossibilitando as poucas chances do vento circular e aplacar o calor, um vento que vinha de uma tímida fresta de uma janela ligeiramente aberta do outro lado do corredor. Provavelmente todos já respiravam aquele ar insalubre, repetido, já conhecido pelos pulmões, que de tanto resfolegar, tinha mais gás carbônico que oxigênio.
Mas qual era o problema? Alguma vez foi diferente disso?
O problema não era o abafado e a péssima qualidade do ar. O incomodo maior era não saber para onde se estava indo. Ele não sabia se estava indo trabalhar, ou voltando do trabalho direto para casa, se estava indo para casa vindo da faculdade, ou mesmo, se estava no meio do percurso do trabalho para faculdade.
Por alguns segundos não se sabia a direção, o sentido... Parecia estar num “limbo urbano”, no meio de um caminho para não se sabe aonde, e vindo de lugar nenhum.
Novamente, esticou o pescoço numa ultima tentativa de identificar alguma coisa que o trouxesse de volta para órbita, para o chão, ou melhor, para o assoalho, tentando desta forma reconhecer o cobrador. Sim, era ele, que maravilha! Nunca havia sentido tanta afeição por outro homem como naquele momento. Ao vê-lo sentiu-se aliviado. Ufa! Estava indo para casa, sim, com certeza. Parece que o chão surgiu debaixo dos sapatos, o ar refrescou, uma leve brisa da noite invadiu o local, alguém havia escancarado à janela de forma generosa! Sentiu-se de volta de uma viagem longa, pois reconheceu no cobrador a figura daquele que sempre o acordava aos gritos:
“ Finaaaal, ponto finaaaal!”
Olha pelo vidro embaçado. Ta escuro lá fora. Gotas escorridas de água provam duas coisas: ou choveu, e ele não viu, ou ele dormiu tanto no ônibus que foi parar na garagem, lavaram o veículo, sem que ninguém percebesse o indivíduo ali. Isso acontece às vezes, quando nos “camuflamos” na multidão. Não somos mais o João, o Carlos, o Marcos, somos uma massa, e no momento em que esse amontoado se extingue, não sobra percepção para indivíduos isolados.
Apesar de já ter passado por isso antes, ainda não acostumara com esse sentimento de vazio, flutuação, de falta de sei lá o que. Por isso, correu os olhos pelo local e percebeu que o abafado que sentia era porque o coletivo estava cheio. Muita gente em pé, como peças inteiras de carne penduradas no gancho de um caminhão frigorífico balançando displicentemente, impossibilitando as poucas chances do vento circular e aplacar o calor, um vento que vinha de uma tímida fresta de uma janela ligeiramente aberta do outro lado do corredor. Provavelmente todos já respiravam aquele ar insalubre, repetido, já conhecido pelos pulmões, que de tanto resfolegar, tinha mais gás carbônico que oxigênio.
Mas qual era o problema? Alguma vez foi diferente disso?
O problema não era o abafado e a péssima qualidade do ar. O incomodo maior era não saber para onde se estava indo. Ele não sabia se estava indo trabalhar, ou voltando do trabalho direto para casa, se estava indo para casa vindo da faculdade, ou mesmo, se estava no meio do percurso do trabalho para faculdade.
Por alguns segundos não se sabia a direção, o sentido... Parecia estar num “limbo urbano”, no meio de um caminho para não se sabe aonde, e vindo de lugar nenhum.
Novamente, esticou o pescoço numa ultima tentativa de identificar alguma coisa que o trouxesse de volta para órbita, para o chão, ou melhor, para o assoalho, tentando desta forma reconhecer o cobrador. Sim, era ele, que maravilha! Nunca havia sentido tanta afeição por outro homem como naquele momento. Ao vê-lo sentiu-se aliviado. Ufa! Estava indo para casa, sim, com certeza. Parece que o chão surgiu debaixo dos sapatos, o ar refrescou, uma leve brisa da noite invadiu o local, alguém havia escancarado à janela de forma generosa! Sentiu-se de volta de uma viagem longa, pois reconheceu no cobrador a figura daquele que sempre o acordava aos gritos:
“ Finaaaal, ponto finaaaal!”