quarta-feira, 18 de julho de 2007

Pra Dentro











Quem sabe explicar, o que se sente no final de algo bom. Uma viagem, uma diversão, um bom filme, uma comida deliciosa, uma transa fantástica, uma boa conversa, uma boa piada, em fim, o que acontece?

Aquele buraco enorme de Domingo no final da tarde, ou mesmo depois de ver um filme de aventura onde os personagens viajam por lugares exóticos, e tem uma vida agitada e recheada de emoções, e você de repente desliga a TV... Aquele silêncio na sala, você olha em volta e esta no mesmo lugar de sempre, com o controle na mão, tentando descobrir porque esta se sentindo uma ameba, pequeno, inferior. Você não tem aqueles músculos, e nem aquele corpo, não tem uma viagem para fazer, não tem uma garota linda para salvar, ou mesmo algum cara que te salve da vida que você vive agora, querendo te levar á qualquer lugar, menos aquele onde você se encontra.

As crianças são sempre mais sinceras. Quando a brincadeira acaba, elas ficam tristes na hora, reagem à falta daquilo que estava tão bom. Nós também sentimos falta, mas temos que ser “maduros”, cocientes de que aquilo uma hora iria acabar...E caímos numa cruel realidade, insípida. Talvez aqui possamos classificar alguns desses males que atualmente vem sendo cada vez mais presentes em nossas vidinhas: o tédio, a rotina, a mesmice, a depressão, a insatisfação entre outros.

Agora, imagine um dia muito especial, um dia ideal. Onde acontecesse tudo que você quisesse.
Se agora, nesse momento, você pudesse fazer exatamente o que quisesse. E nas próximas 24 horas você pudesse escolher qualquer coisa, tendo o poder de fazê-la acontecer, no passado ou no presente. E melhor ainda, tudo se repetisse durante muito, mas muito tempo. Imagine...

Tomando uma batida na praia de Porto de Galinhas, um café num bristô em Paris, boiando numa piscina em um hotel 15 estrelas de frente pro mar nas ilhas Cayman ou em Bora-Bora no Tahiti ou qualquer outro lugar paradisíaco, praticando mergulho em Fernando de Noronha, assistindo ao Festival Hurricane na Austrália (festival que reúnes os maiores nomes da música da atualidade que teve inicio em 1973 e que só acontece no gelado continente Europeu), um show intimista com seu artista preferido, almoçando em uma cantina no Bexiga(SP), catando siriri numa noite quente de verão, pulando amarelinha com uma casca de banana na mão, visitando as ruínas dos Maias em Machu Picchu, viajando em um belo conversível numa estrada, em alta velocidade, ou simplesmente dormindo em sua cama.

Mesmo assim, sê isso continuasse a se repetir, e repetir, dia após dia, será que não voltaríamos aos sentimentos de vazio, exatamente aqueles dos quais queríamos fugir?

É muito difícil lidar com essas coisas. Parece que é algo alienígena em nós. Um desespero para pode identificar o que se passa provoca idas sem razão á geladeira, sem saber o que se quer. Uma insatisfação compulsiva e desenfreada.

Não tenho aqui a pretensão de esmiuçar, muito menos esgotar o assunto, nem tão pouco elucidar isso tudo. Mas com um pouco de reflexão, não faz mal a ninguém, e talvez vamos chegar ao inicio de algo que possa ser considerado uma tímida referencia na direção da tentativa de estancar essa sangria.

Por nos acostumarmos com paliativos, compridos que aliviem rapidamente esses tormentos, nos contentamos em enganar as sensações, com essas pequenas doses de coisas que se desfarão tão rapidamente quanto um filme de aventura ou uma volta na montanha russa. Esquecemos que as coisas boas de verdade, que ficam que permanecem, vêm de processos morosos, lentos, quase estáticos e imperceptíveis como o movimento da terra.

São as que conseguimos injetar, colocar de alguma forma, pra dentro de nós. Coisas que aos poucos, mudem nossa visão, nossa forma de enxergar as pessoas e as situações. Que façam repensar conceitos, paradigmas, opiniões, reavaliar, mudar, como diria Raulzito, que nos torne em uma “metamorfose ambulante”. Que preencham mais do que a simples adrenalina do entretenimento. Porque o que você absorve de conceito, valor, aprendizado, de conteúdo, não tem fim. Não termina quando sobem os créditos, não se acaba junto com o dinheiro, não desaparece quando chega ao clímax, muito menos some quando o radio-relogio desperta numa manhã de Segunda-Feira. Esses novos conceitos absorvidos, essas novidades que te fazem sair de uma zona de conforto, irão te acompanhar pra toda vida, e sempre estarão lá, quando você precisar.


Marcelo Silva
08/2006

Um comentário:

Daniel disse...

"Coisas boas q ficam e permanecem vem de processos morosos"...gostei desse texto, principalmente dessa parte, pq a nossa preicipitação sempre tenta acabar com essa dinamica da vida, a gente sempre paga o pato pela pressa.

Muito bom.