quarta-feira, 18 de julho de 2007

Mundos Diferentes


As paredes são espessas, são altas. Olhando pra cima, não sê vê o fim delas, são como muros, são um labirinto, não permitem outro caminho, a não ser o da busca pela saída. Tentei voar, mas fui alto demais, minhas asas derreteram e cai aqui de volta. Não dei ouvidos ao Dédalo que gritava ao meu lado. Acreditei que aquele meu vôo me levaria ao sucesso, á luz, me traria alivio, ar fresco.

Esse labirinto tem vida própria, e suas paredes parecem estar impregnadas de tudo que já foi dito e feito algum dia. Como uma tatuagem pra todos verem, o relato de tudo que já se confessou entre elas.
Elas são as testemunhas de um passado que ainda mora numa região de fácil acesso. E que a qualquer momento vem me fazer uma visita surpresa. Essas paredes não tem compaixão, não sentem remorso, não voltam atrás, não dão espaço. Elas se fecham, se contraem, espremem, comprimem, pra que o sumo daquilo que conheço de mim mesmo seja tirado. Quanto mais demoro em achar a saída, mais me desgasto com o resvalar dos braços e dos cotovelos nos tijolos. E assim vão ficando pelo caminho nacos de minha carne, pedaços de pele, de sonhos e vontades, de desejos e idéias, de ideais e esperanças...

Essas paredes, esses muros não me querem por inteiro. Querem a minha identidade, a minha sensibilidade, minhas habilidades, paciência e destreza, meu caráter, meu ódio, minha raiva, meu carinho, pra que não fique mais nada de mim em mim. E simplesmente eu me transforme num bagaço, um resto de algo que já foi um fruto, que saciou a fome de alguém.
Eu perco o viço, a cor e o cheiro. Estou fadado a descobrir a saída do labirinto em que me encontro em troca do que eu sou hoje. Pra me tornar outro eu, lá na saída. Tudo o que me pertencia orinalmente ficou no caminho, ficou nas paredes.

Porque me sujeito a isso? Porque baixo a cabeça e engulo seco o que realmente quero e o que eu sinto? Tudo que realmente acredito? Como é que fica? Quem vai me devolver isso?

Mas eu não cobro isso de ninguém. Nem de mim mesmo. Sabe porque? Porque realmente acredito que assim é que deve ser. Foi assim que me ensinaram, e eu acreditei, e é assim que se faz, afinal, todos estão nessa.

Então se isso é normal e comum, porque não estou feliz? Porque as escoriações me incomodam tanto? Porque estou questionando?
Porque isso não traz mais luz? Não desafoga o peito? Não enxuga as lágrimas, não alivia a dor? Porque o fato disso tudo ter que ser assim, não me convence mais? Parece que o mertiolate que me deram só arde não cura...

A resposta é simples. Isso acontece quando o que eu preciso o que eu acredito pertence a mundos diferentes.

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