sexta-feira, 2 de maio de 2008

COISAS QUE FICAM


Quando as coisas deixam de ser simples, quando elas complicam mais do que podemos imaginar, vamos do conhecido e palpável, ao desconhecido e intangível em pouco tempo.



Resolvemos não nos conformar com o que estava diante de nós e buscamos ir além. Acoplado a isso, a essas descobertas e conhecimentos que se descortinam , vem a cobrança, e uma responsabilidade enorme. Você quer mais conhecimento? Quer ir além? Então prepare-se para ter acesso á coisas e informações que irão lhe tirar aquilo que você chama de chão.

É uma delícia conhecer, descobrir, entender, expandir a mente, aumentar as possibilidades, amadurecer, mas esse é um caminho sem volta. Uma vez nele, jamais seremos os mesmos novamente.
Existe uma linha limite da qual se ultrapassa para nunca mais voltar, e seus conceitos, princípios, valores e possibilidades, mudam, e se transformam em coisas muito mais complexas. Não que isso seja ruim, o conhecimento da verdade liberta, trás novos horizontes, mas dizem que “felizes são os ignorantes”.
Não há dúvidas que a vida deles é mais simples, comedida, limitada, portanto, menos polêmica, tranquila e mais próxima da satisfação, exatamente por serem assim.
Não me arrependo de nada, em momento algum. Mas como sou saudosista, fico lembrando de uma época em que tudo era simples, inocente, puro, com total falta de malícia.
Outro dia, ouvindo uma música, me deu um estalo. Parecia uma viagem no tempo. Era como que se fosse acionado um dispositivo em minha mente e fiquei totalmente estático, tentando "prender" aquele momento, para que ele não passasse tão rapido. A impressão que tive era que se eu me movesse, aquela sensação iria embora.
Quando eu era pequeno, e ia á igreja, haviam músicas parecidas com essa que estava ouvindo, entoadas por todos, acompanhados por um precário piano mal tocado, um violão velho, ou um órgão com o vibrato no máximo. A preocupação não era a entonação, o ritmo, muito menos se as vozes soavam nítidas ou belas. O importante era cantar com toda força dos pulmões. Essas canções falavam de esperança, dedicação, fé, amor, paz, e um futuro bilhante em um lugar onde as ruas são de ouro, os homens cegos podem ver e o mal não pode alcançar. Onde todo sofrimento tem seu fim, as dores e as tristezas terminam definitivamente. Diziam de uma terra além do rio, onde pequenos sinos de ouro tocam, e a paz é imperturbável. Toda natureza e os homens vivendo em equilíbrio e união.
Era uma época em que pelo menos eu, acreditava em tudo. E isso acabava por trazer esperança de dias melhores, mesmo em meio a uma vida difícil e turbulenta que levavamos.
Aquelas músicas que eu estava ouvindo me levaram para esse tempo numa viagem da conciência enebriada por um breve momento.

Lembrei que era como se os problemas, os medos, as dificuldades, a falta de dinheiro, tudo isso, simplismente desaparecesse. Transformado-se em pequenas coisas sem importância, e toda dor e preocupação, sumiam. Me senti cantando aquelas canções novamente, por entre os bancos e cadeiras velhas de madeira. Todos pareciam sedados, anestesiados, flutuando em catarse coletiva, e de repente...A vida parecia ter melhorado, no fim da última estrofe, tudo estava resolvido.

Lembro de pequenas igrejas, com o reboco caindo e a pintura por fazer, onde pessoas cheias de fé, em bairros pobres, no meio do nada, na escuridão da noite, cantavam juntas, sobre forças que desafiavam o universo.
Fiquei paralisado, curtindo esse momento, essa bruma, pensando nessas coisas, que pertencem á um passado que hoje parece tão distante, uma época singela, quando se cria na vida de forma mais simples, onde tudo era possível.








"...findarão as agruras da vida,
Quando a névoa do mal passar,
A de a noite fugir, ante o vivo lizir,
Quando o dia eternal raiar.”

quinta-feira, 6 de março de 2008

"A coisa mais terrível que pode acontecer a um homem é se tornar ridículo aos seus próprios olhos num assunto de importância crucial, ao descobrir, por exemplo, que a soma e a substância de seu sentimento não passam de pura besteira."
Filósofo Dinamarquês.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Lizandra


Os Imãos viraram Tios
A mãe agora é avó
e os Avôs são bisavos
e daqui a um ano vai ter festinha
e em 15 anos ela vai ser mocinha
Lizandra Perfeita
e de um casal de simples namorados, surgiu uma familia.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

“Cochilando no ponto”

Sabe acredito já ter ido ao casamento de quase todos os meus colegas antigos, ex-namoradas inclusive. Não, não fui de bicão não, fui convidado e tal, tudo certinho. Em alguns fui torcendo pro noivo ser mais calvo ou mais gordinho do que eu. E dos meus colegas então... Já fui até padrinho de grandes enlaces matrimoniais. Digo com sinceridade que foi um prazer. Mas estranhamente, depois que a festa acaba, não tenho muito contato com eles não. Às vezes pelo Orkut, mas muito pouco. Isso não chega a ser uma critica á eles, e talvez se fosse ao contrário eu faria o mesmo. Afinal de contas agora eles estão casados e pertencem á um mundo novo, uma nova dimensão, estão em um ponto diferente da vida. Serão pais e mães de família, e no máximo, irão falar sobre o bebê que esta por vir ou vão me mandar o convite para a primeira festa de aniversário do filho deles. Sem problemas, adoro crianças.
Pois é, eles optaram por seguir um caminho certinho, do tipo, namore, fique noivo, e se case. Tenha uma religião, freqüente uma igreja e seja um bom pai, uma boa mãe dentro dos padrões sociais aceitáveis. Fique dentro da área de segurança, e não ultrapasse a faixa amarela.

E eu... Bom, parece que o tempo passou, e eu deixei que todos os eventos “normais” que deveriam ter se seguido naturalmente, como aconteceu com eles, fossem desfilando na minha frente, sem que eu escolhesse nenhum deles. Agora, é cada um na sua, em seus mundos, em seus ambientes hermeticamente fechados e protegidos de mudanças.





Eu deixei passar e não peguei esse ônibus, to ainda aqui, no ponto, esperando passar um, que me leve onde eu realmente gostaria de estar. Será que vou relutar e depois acabar pegando a mesma condução que todos pegaram, só pra não ser diferente? Não, mas se eu fizer isso, vai ser porque chegou a minha hora, o meu momento, e não por embalo, e não por ter ficado sozinho no ponto.
A gente não programa isso. É como se os itinerários não lhe atraíssem. Só que quando você não faz uma opção padrão, parece que ficou para trás, parece que todos embarcaram, e você ficou, ou então se perdeu no caminho por descer antes do ponto certo... Esse é um sentimento difícil de lidar. Mas posso dizer uma coisa, na qual passei a acreditar, depois de um tempo, e que se resume bem na seguinte frase: “Só quem se perde, encontra outros caminhos”.

Há outros destinos, que podem ser bem interessantes também. Rauzito dizia:

“... é chato chegar, a um objetivo num instante, eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...”

Eu sei que não é fácil ser assim, é muito mais fácil seguir o fluxo. Há muita critica e muita aporrinhação. Mas e daí, num foi isso que eu escolhi? A final não somos meras vítimas das circunstâncias, nós escolhemos.
E tem mais, logo não vou me sentir tão só nessa espera. Acredito que vão aparecer outros que compartilham da mesma vontade de ir além, ou de conhecer outros caminhos. E ai, tudo fica muito mais interessante. Enquanto isso, sei que algumas vezes vou pegar o ônibus errado e pedir pra descer de repente, em algum ponto desconhecido da vida.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Escolha






É a falta de amor, ou o excesso que nos faz sofrer? Amando demais, demonstramos fraqueza, falta de orgulho próprio? Se amar de menos, vazio, frieza, indiferença?
Se alguém se entrega demais a uma paixão fica totalmente exposto, abre as portas para a dor da perda, da magoa, da angústia, do ciúme de saber que nunca vai ter exclusividade? Se não se entrega é covarde, egoísta, medroso, inseguro?
A medíocre conclusão que chegamos é que os dois são ruins e bons, ao mesmo tempo.

E ai, qual sofrimento você vai escolher?

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Um pouco de poesia








Espetáculo


Álvaro Alves de Faria

O salto mortal é meu número especial nesta tarde de domingo. Não tentarei o trapézio, por não saber voar sobre as cabeças que torcem para a corda arrebentar. Pensando bem, abrirei a tarde falando ao respeitável público que farei a mágica final: desaparecer sem nunca ter sido visto por ninguém.




Sobre o autor: Paulistano, jornalista, poeta e escritor. Ganhou inúmeros prêmios, entre eles o Prêmio Jabuti.Foi preso cinco vezes e levado ao Dops (década de 1960), acusado de subversivo, por seus recitais públicos de poesia em São Paulo.



Frustrações, decepções e euforias

Samuel Rawet



Tenho grandes euforias. Amo e odeio apaixonadamente. Uma vida intensa, difícil, saborosa! Acho a vida uma grande aventura. Espero que os idiotas me compreendam.




Sobre o autor: Nascido na Polônia, veio para o Brasil com sete anos. Samuel Rawet (1929 - 1984) era muito introvertido e até esquisito. Andava pelas ruas de Brasília de shorts, chinelo e uma gaiola nas maõs: "para pegar rato judeu". Samuel era judeu.




Das buscas e descobertas

Eduardo Canabrava Barreiros




Foi temendo o isolamento que me integrei na multidão. Isolei-me ainda mais! Foi receando a miséria que amealhei. E me tornei miserável! Foi apavorado ante a morte que me defendi. E acabei matando! E pior: foi temendo o medo de ter medo que me tornei medroso.




Sobre o autor: Renomado historiador e cartógrafo brasileiro.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Dúvida, medo e produção

Eu jurava que meus planos iriam dar certo. Eu tinha tudo pronto em minha mente.
Não havia a menor dúvida do que eu queria, e exatamente por isso que eles deram em nada. Sinistro...
Mas sabe... Eu não me arrependo. O problema é voltar à estaca zero e recomeçar tudo de novo. Será que consigo?
No caso, essa dúvida infeliz é um bom sinal, ela não é vilã. Antes eu não a tinha pra me aporrinhar, agora tenho. Será? Será que consigo? Ai é uma questão de força de vontade e paciência. Porque agora com uma manada de elefantes pesando atrás das orelhas, fica tudo perigoso na nossa cabeça. Um medão danado, chão feito de casca de ovo de galinha de granja! Sabe aquele chocado na estufa? Gelo fino trincado sobre um rio congelado. Shiiiiiii! Silêncio... Se não vai acordar a má sorte que parece ter dado uma trégua.
E tem mais, ao primeiro estalo, corre pra não afundar, mesmo que ás vezes seja só um pequeno estralar dos dedos, ou um movimento com o pé que fez estralar uma junta... Mesmo assim, não tenho culhão para enfrentar. Não senhor! Chega de afundar sem saber nadar.
Mas e agora? Como fica? Medo, insegurança, cagaço, tristeza, solidão... Falando em solidão, é o que eu costumo dizer á mim mesmo e às vezes, para alguns amigos mais corajosos que eu:

A solidão não tem surpresas. É sempre aquilo e pronto você já sabe como é. Sem sustos!

A solidão encarada como algo seguro, definido, estável. O lance é fazer a opção.
Agora, uma pergunta. Porque não conseguimos ficar assim, numa boa, cada um na sua? Dá uma desafogada de vez em quando e pronto, toca o enterro.
Sinceramente se soubesse a resposta talvez não estivesse aqui questionando. E ai, ninguém iria ler esse texto, e ai, alguém que pensa assim jamais iria se identificar e descobrir que não esta só nessa situação. Putz! Acabei com a segurança da solidão... Ai que ta! Os sentimentos forçam a gente a produzir coisas. Quem nunca ouviu as histórias de artistas famosos, músicos, pintores, que tiveram grandes decepções, grandes traumas na vida, muita tristeza, solidão, medo e angustia? E isso desencadeou uma reação que simplesmente salvou-lhes a existência! Salvaram a lavoura sem querer, sem ter planejado nada disso. E isso, os fez emergir do mergulho surdo e profundo provocado pelo choque traumático. Saca só o que esse cara escreveu e tenta imaginar o que ele tava sentindo:

Sinto a vida calefar pelos poros. Não posso conter o apelo de minha anatomia. Sou o veículo frágil das hipóteses desconexas, das crenças céticas, dos hermetismos confessos. Sou corpo que não cabe em recipientes. Sou o títere das articulações engessadas. Sou eu mesmo o meu próprio simulacro.

O sentimento de medo, dúvida, desconfiança, pode ser usado para isso.
Desde uma bronca até mesmo um trauma castrante, deve produzir algo. Se não é só dor e mais nada. E acabamos por nos contorcer com isso tudo atado a nós e não geramos nada. A gente repudia tanto a dor como algo que não nos pertence... Nós não aceitamos que ela também é algo mais nobre que simplesmente sofreguidão e lamúria, ela é lapidação.
O paradoxo aqui fica subentendido como medo e coragem, ação e reflexão. A dúvida nos faz refletir, o medo, nos faz pensar, e quando pensamos... Bom, quando pensamos damos um tempo. Apertamos o pause no controle remoto e avaliamos a situação por vários ângulos. E então... Decidimos... Ou não! A parada que damos nos faz ir mais adiante, nos trás coragem, a coragem da certeza, de que é por este caminho que se deve continuar.
Eu decidi e até agora não me convenceram do contrário... Ainda... Digo ainda porque algumas hipóteses não podem ser totalmente dispensadas.
Imaginamos que tudo isso seja um pequeno estágio, uma fase do jogo que temos que passar para atingir a grande meta, o alvo, o objetivo maior, aquele que esta preparado para nós. Parecem apenas momentos de treinamentos e aprendizados que vão culminar no “viver de verdade”, lá na frente, algo incrível.


Porque esse medo, esse maldito “pit-stop” , como já dizia meu irmão mais novo, essa sala de espera, parece nos atrasar a viagem, nos trazendo a sensação de perda de tempo, mas não se trata disso. Essa parada para beber água, esse pix existencial, é parte do processo, está contido no conjunto, assim como pregam os filmes de ficção ciêntífica, as viagens no tempo, já estão todas na história dos acontecimentos, também sendo contabilizado como tempo normal e válido.

Isso me faz lembrar da frase naquela música do John Lennon: “A vida é tudo aquilo que acontece enquanto fazemos outros planos”
Será que então é essa minha vida e eu ainda não estou aceitando que ela seja assim?

Provavelmente...